Temer tenta salvar acordo Mercosul-UE enquanto Uruguai mira a China
Uruguai recomenda que o bloco desista do diálogo com Bruxelas e busque outros acordos comerciais. Macri, afetado por crise econômica na Argentina, não vai a encontro
O presidente do Paraguai, Horacio Cartes, recebe o presidente Michel Temer em Assunção. JORGE ADORNO REUTERS
Depois de anos de lentidão e após um empurrão considerado decisivo em 2017, as negociações para o acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia parecem entrar em outra fase complexa. Os sinais foram públicos nesta semana. O presidente Michel Temer usou um discurso na cúpula dos presidentes do bloco sul-americano em Assunção, no Paraguai, para pedir calma aos parceiros do Mercosul nas tratativas que o grupo mantém com a UE desde 1999 — ainda que de forma descontínua — para alcançar um acordo de livre comércio. O presidente do Uruguai, Tabaré Vázquez, que recebeu a presidência rotativa do grupo de seu homólogo paraguaio, Horacio Cartes, disse que seu país não está mais disposto a "perder tempo em negociações eternas". Dias antes, a diplomacia uruguaia havia feito acenos à China.
"Quando se fala de dança, não se dança sozinho", criticou Vázquez durante a cúpula de presidentes realizada em Assunção na terça. "Nosso trabalho deve ser um trabalho de abertura para o mundo, fechar essa porta agora significa impedir um avanço", respondeu Temer, destacando que "as negociações com a UE avançaram muito nos últimos tempos". O encontro não contou com a presença do presidente argentino, Mauricio Macri, que decidiu não comparecer por causa da crise econômica e da alta do dólar.
O Uruguai deseja fechar um acordo com a China, que responde por 11% do comércio mundial e que enfrenta uma disputa com os Estados Unidos. No meio está o Paraguai, parceiro fundador do bloco e aliado diplomático de Taiwan, que Pequim considera parte integrante de seu território contra a autoproclamada soberania taiwanesa. "Pedimos para prosseguir e, se por algum motivo algum de nós [...] não puder avançar nesse aspecto, então também dialoguemos e encontremos fórmulas que, sem ferir o Mercosul, contemplem seus Estados membros", acrescentou o presidente uruguaio.
Vázquez lembrou que a última reunião com a China foi em setembro de 2004, "quase o mesmo tempo de duração das negociações com a UE". O presidente uruguaio também criticou o fato de a UE ter chegado a um acordo com o Japão após um ano de negociações, porque houve "vontade política" que, segundo Vázquez, está faltando em Bruxelas em relação ao Mercosul.
O bloco iniciou nos últimos meses negociações com o Canadá e com a Coreia do Sul e também contatos com Singapura, por isso o novo presidente do Mercosul destacou a manutenção do interesse em novos mercados. "Existe a Aliança do Pacífico, existem China, Rússia, Japão, a União Econômica Eurasiática", acrescentou. Temer também defendeu uma aproximação com os países da Aliança do Pacífico, formada por Chile, Colômbia, México e Peru. Ambos os blocos realizarão uma reunião no final de julho.
A UE e o Mercosul buscam um acordo para fortalecer suas relações comerciais desde 1999. Os maiores avanços ocorreram em 2017 e, embora ambas as partes tenham expressado em várias ocasiões sua intenção de selar o pacto no início deste ano, isso ainda não aconteceu. As dificuldades para avançar persistem nas tarifas para produtos industriais e agrícolas, como a carne bovina sul-americana e os laticínios europeus.
Venezuela e Nicarágua
As relações exteriores do Mercosul também foram objeto de discussões anteriores entre altos representantes dos países membros: Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai (a Venezuela também faz parte do bloco, mas continua suspensa devido à tendência antidemocrática do Governo de Nicolás Maduro). Os países aprovaram uma declaração sobre a crise humanitária e migratória na Venezuela e outra sobre a Nicarágua, onde uma onda de protestos contra o Governo do presidente Daniel Ortega causou mais de 170 mortes desde 18 de abril.
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