Presidente do BNDES se demite após Bolsonaro colocar sua cabeça a prêmio
Joaquim Levy pediu demissão após queixas do mandatário sobre indicação de economista que trabalhou em governos do PT e por suposta falta de informações sobre empréstimos do banco
São Paulo
Joaquim Levy, ao tomar posse no BNDES em janeiro deste ano. TÂNIA REGO AGÊNCIA BRASIL
Mais uma troca de comando barulhenta no Governo Jair Bolsonaro neste domingo. O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Joaquim Levy, enviou sua carta de demissão ao ministro da Economia, Paulo Guedes, após o presidente deixar claro que seu cargo estava por um fio. “Estou por aqui com o Levy”, disse o presidente neste sábado, antes de embarcar para agenda no Rio Grande do Sul. O motivo da irritação de Bolsonaro foi escancarada diante de jornalistas que o entrevistavam em Brasília. “Levy nomeou Marcos Pinto para função no BNDES”, em referência a Marcos Barbosa Pinto, contratado na semana passada para o cargo de diretor de mercado de capitais do BNDES. Economista e doutor em direito, Pinto é sócio da Gávea Investimentos e atuou por dois anos no banco de fomento durante o Governo Lula. Foi chefe de gabinete de Demian Fiocca, visto como um nome ligado a Guido Mantega, ex-ministro da Economia de Dilma. Essa ligação com o petismo irritou o presidente. Marcos Pinto ficaria com a responsabilidade de vender participações do BNDESPar, o braço de investimento do banco.
Segundo Bolsonaro, Pinto não é um nome de sua confiança e não está alinhado com suas ideias. “Quando bota gente suspeita em cargos importantes... E Levy já vem há algum tempo não sendo leal àquilo que foi combinado e àquilo que ele conhece a meu respeito, ele está com a cabeça a prêmio já tem algum tempo”, completou o presidente. A frase fez o strike desejado. Pinto apresentou a sua renúncia ao cargo neste sábado, e Levy tornou pública a sua carta de demissão neste domingo. “Solicitei ao ministro da Economia Paulo Guedes meu desligamento do BNDES. Minha expectativa é que ele aceda. Agradeço ao ministro o convite para servir ao País e desejo sucesso nas reformas”, escreveu Levy em carta divulgada à imprensa. Na carta, Levy também agradeceu aos funcionários do banco pela dedicação e lealdade.
Levy é PhD em economia pela Universidade de Chicago, mesma instituição onde estudou o ministro da Economia, Paulo Guedes. Antes de aceitar o cargo para presidir o BNDES, ocupava o cargo de diretor-geral da área financeira do Banco Mundial. Foi trabalhar em Washington depois de ter sido ministro da Fazenda no segundo Governo Dilma Rousseff por 11 meses. Saiu desgastado pela queda de braço para acertar um ajuste fiscal ao qual Rousseff resistia. Havia tido outra passagem por um governo petista, como secretário do Tesouro Nacional, no primeiro governo do ex-presidente Lula. Foi um dos integrantes da equipe econômica que fez o ajuste rigoroso das contas públicas que pacificou o mercado financeiro anti-Lula.
As credenciais passadas, porém, não contaram nada diante da ansiedade do Governo de escrutinar a atuação do banco, que teria concedido empréstimos suspeitos a países alinhados com a esquerda, caso de Cuba e Venezuela. Levy estaria resistindo a sugestões do próprio Paulo Guedes para contratar nomes de sua confiança. Em entrevista ao jornalista Gerson Camarotti neste sábado, Guedes disse que estava em sintonia com o desconforto de Bolsonaro. “Eu entendo a angústia do presidente. É algo natural ele se sentir agredido quando o presidente do BNDES coloca na diretoria do banco nomes ligados ao PT”, disse o ministro. Ele citou ainda a abertura da tal “caixa preta” das informações sobre empréstimos do banco, que o agora demissionário Levy estaria adiando. “O grande problema é que Levy não resolveu o passado e nem encaminhou o futuro”, concluiu.
Bolsonaro quer desassociar seu Governo de qualquer vestígio de governos do PT. Acatou o nome de Levy por sugestão de Paulo Guedes. Mas não cumpriu as expectativas do presidente, que fez da abertura da caixa preta do BNDES um dos lemas de sua campanha. Levy tinha acabado de promover uma reestruturação de cargos no banco para garantir agilidade de decisões e responder “às oportunidades proporcionadas pela liberalização da economia”, segundo comunicado do dia 11 de junho. A ideia era se desfazer de participações do banco em diversos ativos num momento em que o governo federal precisa de caixa para fechar as contas.
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