Alexandre Frota: “Quando falava da esquerda, era ‘o cara’. Agora, me dizem: ‘Está louco”
Deputado é crítico do Planalto e ao mesmo tempo desponta como articulador de Bolsonaro na Câmara. "A reforma da Previdência se deve muito ao trabalho que fizemos dentro da comissão"
Brasília
“Quando falava da esquerda, era ‘o cara’. Agora, me dizem: ‘Está louco” |
Deputado é crítico do Planalto, mas desponta como articulador de Bolsonaro na Câmara. "A reforma da Previdência se deve muito ao que fizemos na comissão" |
Brasília
Aos 55 anos de idade e em seu primeiro mandato como deputado federal, Alexandre Frota (PSL-SP) conseguiu ao mesmo tempo agradar e irritar o presidente e correligionário Jair Bolsonaro. Em Brasília, é tido como um dos principais articuladores do Palácio Planalto e também um de seus críticos mais contumazes. Diz, por exemplo, que o escritor e ideólogo do bolsonarismo, Olavo de Carvalho, criou um Governo paralelo. Ou que o presidente não deveria ter demitido alguns de seus auxiliares, como o ex-ministro da Secretaria de Governo, o general Carlos Alberto dos Santos Cruz. Na tribuna da Câmara e na comissão especial da reforma da Previdência, contudo, é da tropa de choque de Bolsonaro. Já fez 114 discursos em plenário, a maioria a favor do Governo, em algumas sessões usa o microfone até três vezes, algo incomum no parlamento brasileiro.
Vice-líder do PSL, Frota tem sido bem avaliado por figuras-chave na atual política brasileira, como o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, com quem se reúne semanalmente para debater as pautas do Legislativo. Frota chegou à política após se tornar um ativista político contra os Governos do PT. Antes, foi ator de filmes e novelas, comediante, ator pornô, jogador de futebol americano, apresentador e diretor de TV, além de participante de realities shows. Já foi processado por políticos de esquerda e um juiz. Foi condenado a pagar indenizações por danos morais e, vez ou outra, retrata-se quando se excede nas críticas contra opositores do Governo. Hoje é um dos que madruga na Câmara. Diz trabalhar 16 horas por dia e quer ser um parlamentar proativo. Com a voz grave, usando um tom imperativo, parece que está sempre dando ordens.
Pergunta. Você se localiza em qual parte do espectro político? Direita, centro-direita, extrema direita?
Resposta. Cheguei aqui como extrema direita. Hoje, sou moderado, de direita. Não uso esse termo centro ou Centrão. Eu era extremista. Muito rápido, vi que esse não era o caminho. A própria extrema direita cospe naqueles que sempre lutaram pela direita. É quase como um jogo de futebol. Você entra em campo, faz um gol e é aclamado. Sai na capa de jornal, na capa da revista. Você entra em campo, joga mal, não faz gol, sai vaiado, hostilizado na semana inteira, até jogar bem de novo.
P. Qual é o tamanho de seu descontentamento com o Governo Bolsonaro?
R. Eu acho que o Governo Bolsonaro tem ainda alguns meses para acertar o passo. Ele precisa ser mais coerente, menos influenciado por Olavo de Carvalho e seus alunos. O que me parece é que, no momento, isso não é possível. Agora, a vida é feita de escolhas. O Jair tem feito as escolhas dele e eu vou respeitar. Eu torço para ele acertar como presidente. Nós somos amigos. Agora, amigos, amigos, presidente à parte. Eu não vou falar para ele o que ele deve fazer. Ele mais do que ninguém, ficou 27 anos [foram 28, na verdade] dentro da Câmara, sabe como funciona. Hoje, o que tenho visto é o Rodrigo Maia no papel de articulador, de fiador, de entusiasta das ações do Governo, das pautas do Governo. Vejo no Rodrigo um esforço grande. Esse debate do Governo, a gente precisa trabalhar de uma maneira diferente, a gente precisa avançar com a nossa agenda, precisa libertar o Brasil desse passado sombrio. É difícil. Pegamos um país que estava um caos economicamente e socialmente, com 14 milhões de desempregados, 65 milhões de inadimplentes. Ou seja, essa conta não é nossa. O PT fala que governou para os pobres, mas a gente tem esses números aí. Se eles tivessem realmente governado para os pobres, não teríamos tanta desigualdade nesse momento. Acho que o Governo Bolsonaro tem tudo para acertar, basta ele pensar, ter calma e trabalhar de uma maneira diferenciada. Lembro bem que o discurso de Bolsonaro na campanha era: vamos governar para todos, sem viés ideológico.
P. Você cita esse lema do Bolsonaro: “vamos governar para todos, sem viés ideológico”. Acha que ele está fazendo esse governo para todos?
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