martes, 2 de abril de 2019

“Lógica de usar torturadores da ditadura no crime foi usada nas milícias” | Brasil | EL PAÍS Brasil

“Lógica de usar torturadores da ditadura no crime foi usada nas milícias” | Brasil | EL PAÍS Brasil

“Lógica de usar torturadores da ditadura no crime foi usada nas milícias”

Aloy Jupiara, coautor de 'Os porões da contravenção', fala sobre o legado de profissionalização do crime deixado pelos anos de chumbo que perdura até hoje


Felipe Betim
Jornalista | Periodista - El País
O ditado "a polícia tem vários patrões" continua atual no Rio de Janeiro. As investigações do caso Marielle Franco, vereadora do PSOL brutalmente assassinada no dia 14 de março do ano passado junto com o motorista Anderson Gomes, jogaram luz na vida dupla de Ronnie Lessa, acusado de ter apertado o gatilho. Investigações apontam que ele ainda estava na corporação quando passou a fazer bico de segurança do bicheiro Rogerio Andrade. Até que, em 2009, sofreu um atentado a bomba e teve de se aposentar por invalidez por perder uma perna. No ano seguinte, outra explosão matou o filho do bicheiro, Diogo Andrade, minando a credibilidade junto ao contraventor. Fora da PM e deixado de lado pelo bicheiro, Lessa mergulhou de vez no mundo do crime. Com passagem pelo Exército, pela Polícia Militar, pelo BOPE e pela Polícia Civil — onde atuou como adido —, Lessa havia adquirido experiência e informação suficientes para colocar à venda para milicianos e contraventores aquilo que mais sabia fazer: matar.
Paulo Malhães, torturador da ditadura, e Ronnie Lessa, PM reformado. Ambos foram para o mundo do crime.
Paulo Malhães, torturador da ditadura, e Ronnie Lessa, PM reformado. Ambos foram para o mundo do crime. CNV / EFE

Trajetória similar tiveram outros vários agentes públicos da ditadura militar brasileira (1964-1985). Como o capitão do Exército Aílton Guimarães Jorge, o coronel do Exército Paulo Malhães, o policial civil Luiz Cláudio de Azeredo Vianna ou o delegado Mauro Fernando de Magalhães, alguns dos personagens do livro Os porões da contravenção(Record, 2015), dos jornalistas Aloy Jupiara e Chico Otavio. Todos eles foram escalados pelo regime militar nos anos de chumbo — sobretudo após o Ato Institucional número 5 (AI-5), de 1968 — e treinados para perseguir, torturar e matar opositores de esquerda. Com o início da abertura política e o desmonte do aparelho repressor da ditadura a partir da segunda metade dos anos 1970, começaram a cair no ostracismo, abandonados pelo regime.

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