Carlos Pereira, da FGV: “Já é sabido que presidentes que ignoram o Legislativo não acabam bem”
Ao avaliar os primeiros 100 dias de Bolsonaro no Planalto, cientista político afirma que a relação entre o presidente e o Congresso é o ponto nevrálgico dessa gestão
São Paulo
Não adianta querer brigar com o que Jair Bolsonaro chama, convenientemente, de "velha política". Se o presidente não formar uma coalizão majoritária dentro do Congresso, vai seguir patinando em cima da estagnação política que tomou conta dos primeiros 100 dias de seu Governo. É o que defende Carlos Pereira, cientista político e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) do Rio de Janeiro. Para ele, Bolsonaro tem todas as condições de se tornar "o presidente mais efetivo dentro do Parlamento" se assim desejar. Mas vai ter de negociar com as lideranças, atrair os partidos e deixar de colocar energia em uma agenda irrelevante para o país.
Carlos Pereira, cientista político e professor da Faculdade Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro. DIVULGAÇÃO FGV-RJ
O balanço não é dos melhores: 100 dias, duas baixas do alto escalão, escândalos de corrupção envolvendo seus filhos, batalha aberta com o Congresso e os dois grandes projetos do Governo - a reforma da Previdência e o pacote anticorrupção - estagnados. Por outro lado, Pereira avalia que a gestão macroeconômica vai bem e que os investimentos devem ganhar mais fôlego assim que o presidente começar a agir de forma mais "estável e previsível". Confira os principais trechos da entrevista:
Pergunta. De maneira geral, como o senhor avalia os primeiros 100 dias do Governo Bolsonaro?
Resposta. O que é interessante é que surpreendentemente ele não tem a performance do que se espera de um governo populista. Segundo a literatura, um governo populista, seja ele de direita ou de esquerda, se depara com o dilema de construir uma base igualitária, além de ter um contato direto com a sociedade para pressionar o Parlamento. Mas a estratégia de Bolsonaro até aqui foi preferir construir uma coalizão minoritária. Isso a despeito das melhores condições possíveis, já que as urnas foram generosas com o partido dele e criaram condições para que ele pudesse ter uma maioria estável. Mas ele não tem. Essa estratégia tende a ter retornos positivos, mas somente a curto prazo. O Governo tem sido extremamente inefetivo no Legislativo, enviando pouquíssimos projetos. Já temos três meses de gestão e praticamente não temos nenhuma reforma relevante em votação.
Outra coisa é que o Governo não aproveitou a transição para definir o que era prioridade. E dada a ausência de uma coalizão majoritária, ele ficou muito vulnerável ao fogo amigo. O Congresso então começou a ter iniciativas contrárias ao presidente, porque mesmo dentro do grupo do PSL não ficou claro quem era o mandachuva e qual era a estratégia do governo. Isso gerou diversas disputas internas e o Governo foi perdendo a sua popularidade e a confiança dos seus eleitores. Hoje, Bolsonaro vive um grande impasse, dado que nem a estratégia que ele utilizou está rendendo os frutos esperados. O que resta para ele agora é tentar fazer um ajuste, montar uma coalizão e tentar construir seu governo através dos partidos.
contínuo
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