No Capão Redondo, criança tem 86 vezes mais risco de ser estuprada do que em outros distritos de São Paulo
Mapa faz raio-x dos fatores que impactam o desenvolvimento infantil na cidade. Crianças de Marsilac têm 23 vezes mais chance de morrer antes de um ano do que as de Perdizes
São Paulo - 12 FEB 2020 - 10:01ART
Simulação de uma criança que sofre abusos.EXTRA ROOS KOOLE
No Capão Redondo, na zona sul de São Paulo uma criança de até cinco anos tem 86 vezes mais risco de sofrer uma violência sexual do que as que moram em um distrito mais rico como Alto de Pinheiros, na zona oeste, por exemplo. Em 2018, foram notificados 607 casos de violência sexual contra crianças nessa faixa etária em toda a capital paulista, um aumento de 47% em relação a 2016, de acordo com os números da Secretaria Municipal de Saúde. Os dados fazem parte da segunda edição do Mapa da Desigualdade da Primeira Infância (uma faixa etária que vai de 0 a 6 anos), divulgado nesta quarta-feira pela Rede Nossa São Paulo.
O levantamento faz o cruzamento de dados públicos e privados com base em 28 indicadores de cada um dos 96 distritos da cidade. E aponta como o local de moradia pode ser determinante para o desenvolvimento de uma criança.
Marsilac, no extremo sul, e São Lucas, na zona leste, são os piores distritos de São Paulo para a primeira infância: aparecem oito vezes entre os 24 piores nos indicadores do Mapa da Desigualdade. Uma criança que nasce em Marsilac, por exemplo, tem 23 vezes mais chance de morrer antes de completar um ano do que uma criança de Perdizes (zona oeste da cidade) e 18% dos nascidos vivos no local são de mães menores de 19 anos —a média da cidade é de 10%. Em Moema, distrito nobre, a porcentagem de crianças fruto de gravidez na adolescência é de apenas 0,35%. Em São Lucas, os bebês têm 12 vezes mais risco de morrer antes dos 12 meses do que em Perdizes.
“A primeira infância é importante para desenvolver características cerebrais e cognitivas que se perpetuam nas outras fases da vida. Nosso objetivo é justamente apontar como o território influencia esse desenvolvimento. Investir na primeira infância é investir na cidade”, explica Carolina Guimarães, coordenadora da Rede Nossa São Paulo e uma das responsáveis pelo Mapa. “Uma criança que vive com má qualidade de habitação, com má qualidade de locomoção, já começa a vida em um patamar atrás se pensamos em meritocracia, o conceito mais vigente nos dias de hoje”, acrescenta Guimarães.
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