Papa abre cúpula contra abusos sexuais anunciando “medidas concretas e eficazes”
Durante três dias, 190 líderes religiosos se reúnem no Vaticano para tratar de pedofilia na Igreja
Roma
O Papa, durante a oração em que deu início à cúpula contra a pedofilia VINCENZO PINTO AFP
O Papa Francisco iniciou nesta quinta-feira a cúpula sobre os abusos sexuais, que se realiza no Vaticano até o próximo domingo, 24. Diante de uma plateia de 190 líderes religiosos (entre presidentes de conferências episcopais, representantes de igrejas orientais, chefes de dicastérios e bispos sem dioceses), Francisco recordou o objetivo do encontro histórico. "Eu os convoquei para que juntos possamos ouvir o grito dos pequenos que pedem justiça".
Em uma apresentação curta e austera, o próprio Papa enfatizou a necessidade de mudar o rumo e estancar a hemorragia que dessangra a Igreja Católica, com ações precisas. "Nossos corações estão cobertos pelo peso da responsabilidade pastoral e eclesial que nos obriga a discutir em conjunto, de modo sinodal, sincero e profundo, como lidar com este mal que aflige a Igreja e a humanidade. O povo santo de Deus olha para nós e não espera só condenações simples e óbvias, mas todas as medidas concretas e eficazes que são necessárias. É preciso ser específico.”
Além disso, Francisco anunciou aos participantes que lhes preparou por escrito algumas linhas básicas fundamentadas em reflexões anteriores enviadas por conferências episcopais e sobre as quais agora devem trabalhar. Uma espécie de lista de medidas urgentes que cada diocese tem de gravar a fogo em sua maneira de proceder. "Um ponto de partida que vem de vocês e em vossa direção. Mas isso não diminui a necessidade da criatividade, que deve vir de vocês nesta reunião. [...] Que a Virgem Maria nos ilumine para tentar curar as graves feridas que escândalos de pedofilia têm causado nos pequenos e nos crentes.”
Desse modo, com uma oração e um vídeo com depoimentos de vítimas, começou nesta quinta-feira no Vaticano a histórica cúpula contra os abusos sexuais na Igreja. Com uma organização semelhante à de um sínodo de três dias, os 190 participantes se reúnem na Sala Paulo VI do Vaticano sob o mesmo esquema e três temas centrais: a responsabilidade dos bispos, a prestação de contas e a transparência.
A cada dia haverá várias apresentações, 10 grupos de trabalho divididos por idiomas e uma sessão de conclusões. Na manhã desta quinta-feira foi a vez do cardeal filipino, Luis Antonio Tagle, e do arcebispo de Malta, Charles Scicluna. O segundo, secretário da Congregação para a Doutrina da Fé e principal especialista nas investigações de casos de abuso, deu uma aula magistral de direito e procedimentos básicos a serem seguidos pelos bispos quando detectam um caso. A intervenção, rica em dados e citações da documentação existente, mostra a carência de conhecimento das normas em algumas dioceses. Mas o arcebispo destacou que o papel da vítima nos processos é muito limitado e tem que ser expandido.
No domingo de manhã, o Papa dará uma declaração de encerramento em que poderá haver um anúncio que atenda à demanda das vítimas de algumas medidas concretas após a cúpula. A convocação representa um ponto de virada para a hierarquia católica, que por décadas encobriu os casos de pedofilia. As vítimas pressionam para que o discurso do Papa de "tolerância zero" seja posto em prática.
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