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As chamas que devoram a Amazônia brasileira nos últimos dias são as mesmas que alimentam nas redes sociais a indignação contra o presidente Jair Bolsonaro. Enquanto a hashtag #PrayforAmazon (reze pela Amazônia) se tornava trending topic global nesta quarta e quinta-feira, e os habitantes das regiões afetadas publicavam imagens dos danos causados pelo fogo, a crise ganhou escala global: o presidente francês, Emmanuel Macron, catalogou os incêndios na Amazônia como “crise internacional” e decidiu incluir o tema na agenda do G7 deste fim de semana. E o secretário-geral da ONU, António Guterres, mostrou sua “profunda preocupação” com a situação. Bolsonaro reagiu a Macron. Dono de uma retórica radical que não raro lança mão de construções falsas e mentiras para atacar os adversários, o presidente brasileiro usou tom inusualmente sóbrio e duro para acusar Macron de ser "sensacionalista" para "instrumentalizar uma questão interna do Brasil e de outros países amazônicos para ganhos políticos pessoais". A reportagem de Joana Oliveira fala sobre a repercussão da tragédia e protestos nas redes , que começam a se preparar para tomar as ruas nesta sexta-feira.
A colunista Elaine Brum também fala sobre as chamas em seu artigo. "Fazendeiros e grileiros do entorno da BR-163, uma das regiões de maior conflito na Amazônia brasileira, programaram o “Dia do Fogo”. Na data, queimaram áreas de pasto e em processo de desmatamento", escreve.
Ainda nesta edição, a reportagem de Isabel Rubino conta sobre como os fabricantes de armas encontraram em mulheres jovens uma maneira de evitar as restrições que impedem empresas de armas de anunciar em redes sociais. Para vencer restrições legais e políticas das plataformas como o Instagram, muitas empresas descobriram nos influenciadores digitais de armas uma oportunidade de anunciar e atingir grandes públicos. Essas influencerscostumam ser defensoras do direito de portar armas que posam com pistolas de todos os tamanhos. Algumas são esportistas, outras, amantes da caça e há ainda as que começaram a se interessar por armas depois de serem vítimas um episódio violento. Todas acumulam milhares de seguidores.
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Os incêndios na Amazônia desatam críticas mundiais ao Governo Bolsonaro
Macron e secretário-geral da ONU cobram ação contra a crise ambiental que reverbera nas redes sociais. Brasileiro diz que não tem dinheiro para combater o fogo
São Paulo
Região da Amazônia brasileira depois dos incêndios. BRUNO KELLY REUTERS
As chamas que devoram a Amazônia brasileira nos últimos dias são as mesmas que alimentam nas redes sociais a indignação contra o presidente Jair Bolsonaro. Enquanto a hashtag #PrayforAmazon (reze pela Amazônia) se tornava trending topic global nesta quarta-feira, e os habitantes das regiões afetadas publicavam imagens dos danos causados pelo fogo, o presidente dizia, sem apresentar provas, que as chamas estavam sendo deliberadamente causadas por integrantes de organizações não governamentais, como vingança pelo corte de recursos decretado pelo Governo. A crise também transcendeu à esfera internacional: o presidente francês, Emmanuel Macron, catalogou os incêndios na Amazônia como “crise internacional” e decidiu incluir o tema na agenda do G7 deste fim de semana. E o secretário-geral da ONU, António Guterres, mostrou sua “profunda preocupação” com a situação. “Em meio à crise climática mundial, não podemos nos permitir mais danos a uma grande fonte de oxigênio e biodiversidade. A Amazônia deve ser protegida”, tuitou o português, máximo dirigente das Nações Unidas.
Bolsonaro reagiu a Macron. Dono de uma retórica radical que não raro lança mão de construções falsas e mentiras para atacar os adversários, o presidente brasileiro usou tom inusualmente sóbrio e duro para acusar Macron de ser "sensacionalista" para "instrumentalizar uma questão interna do Brasil e de outros países amazônicos para ganhos políticos pessoais". "A sugestão do presidente francês, de que assuntos amazônicos sejam discutidos no G7 sem a participação dos países da região, evoca mentalidade colonialista descabida no século XXI", criticou o presidente ultradireitista, que ainda criticou o presidente francês por usar uma foto "falsa" —a imagem usada, de fato, não é da onda de incêndios atuais, segundo a Folha. Bolsonaro, que contesta a medição oficial do desmatamento feita pelo próprio Governo, ainda pediu o uso de "dados objetivos" para discutir a questão.
Antes, o mandatário brasileiro havia usado sua retórica mais usual. Longe de recuar, voltou à carga. “Querem que eu culpe os índios? Que culpe os marcianos? Todo mundo é suspeito, mas os principais suspeitos são as ONGs. É uma indicação muito forte de que essas organizações perderam seus benefícios. É simples”, respondeu, de novo sem apresentar qualquer evidência, quando perguntado sobre a responsabilidade pelos incêndios. O presidente brasileiro sugeriu, além disso, que faltam recursos inclusive para enviar “quarenta homens para combater o fogo”.
Our house is burning. Literally. The Amazon rain forest - the lungs which produces 20% of our planet’s oxygen - is on fire. It is an international crisis. Members of the G7 Summit, let's discuss this emergency first order in two days! #ActForTheAmazon
Mais de meia centena de organizações não governamentais cerraram fileiras nesta quinta-feira e responderam ao ataque dialético promovido por Bolsonaro. “É uma declaração absolutamente frívola e irresponsável que tem um objetivo muito claro: desviar a atenção do que realmente importa” na hora de tomar medidas que reduzam o desmatamento, declarou Raul do Vale, diretor de Justiça Socioambiental do WWF Brasil, à agência Efe. A Amazon Watch também se manifestou, vinculando a devastação da floresta ao discurso “antiambiental” de Bolsonaro, um ex-capitão do Exército que se mostra partidário de explorar economicamente a Amazônia e reduzir a fiscalização das regras ambientais nas áreas protegidas. “Os agricultores e pecuaristas entendem a mensagem do presidente como uma licença para provocar incêndios intencionais com total impunidade, a fim de expandir fortemente suas operações na floresta”, afirmou Vale.
Além disso, a postura do Governo brasileiro – que já despertou os receios da comunidade internacional – levou o partido Rede Sustentabilidade a apresentar ao Supremo Tribunal Federal (STF) um pedido de impeachment do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, por crime de responsabilidade na gestão da política ambiental.
Comissão externa e Ministério Público
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, anunciou nesta quarta-feira a criação de uma comissão externa para monitorar os incêndios e destacou a importância de preservar o meio ambiente para manter fortes as exportações e o agronegócio. Já a Câmara de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural do Ministério Público Federal também informou ter cobrado ao Ministério do Meio Ambiente uma plano de ações concretas para a prevenção de desmatamentos e incêndios na regiãp da Amazônia Legal. A 4CCR pede o demonstrativo do planejamento das ações de fiscalização para 2019, com o seu percentual de execução. Os ofícios foram dirigidos ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles; ao presidente do Ibama, Eduardo Bim; e ao presidente do ICMBio, Homero Cerqueira. O prazo para resposta é de 10 dias úteis, no caso do MMA, e cinco dias úteis, no caso do Ibama e ICMBio.
O Brasil sofre um número recorde de incêndios. Entre janeiro e a segunda-feira passada, seu número cresceu quase 84% em relação ao mesmo período de 2018, o ritmo mais alto desde que o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) começou a monitorar o desmatamento através de imagens de satélite, em 2013.
A Câmara de Meio Ambiente e Patrimônio Cultural do Ministério Público Federal (4CCR/MPF) enviou nesta quinta-feira (22) ao Ministério do Meio Ambiente (MMA), ao Ibama e ao ICMBio ofício requisitando informações sobre as ações concretas realizadas pelos órgãos para a prevenção de desmatamentos e incêndios na Amazônia Legal. A 4CCR pede o demonstrativo do planejamento das ações de fiscalização para 2019, com o seu percentual de execução. Os ofícios foram dirigidos ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles; ao presidente do Ibama, Eduardo Bim; e ao presidente do ICMBio, Homero Cerqueira. O prazo para resposta é de 10 dias úteis, no caso do MMA, e cinco dias úteis, no caso do Ibama e ICMBio.
Além dos protestos nas redes sociais, os brasileiros começaram a organizar manifestações nos próximos dias em pelo menos doze cidades. Uma das principais, com o lema "Todos pela Amazônia”, está prevista na praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, no domingo —mas já há protesto nesta sexta em São Paulo e no próprio Rio. As comunidades brasileiras em Sydney (Austrália), Barcelona e Lisboa também convocaram protestos.
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