O Ministério da Saúde apresentou nesta quinta-feira os resultados do maior estudo epidemiológico já feito sobre a covid-19 no mundo, realizado em parceria com a Universidade Federal de Pelotas (UFPel). Os dados apontam que, de cada cem brasileiros que pegam a doença, um vai a óbito. Isso representa uma letalidade de 1,15% no país. O estudo também põe em cifras a subnotificação da pandemia no Brasil. De acordo com os resultados, o total de pessoas com anticorpos para o novo coronavírus pode ser seis vezes maior que o número de casos notificados oficialmente.
Outra pesquisa divulgada nesta quinta-feira aponta ainda que o vírus pode ter chegado ao país bem antes do primeiro caso registrado oficialmente, em 12 de março. Pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) encontraram partículas de SARS-CoV-2 em amostras do esgoto bruto de Florianópolis, congelado para estudos de virologia, colhidos em 27 de novembro. Trata-se da amostra mais antiga do novo coronavírus encontrada nas Américas até o momento, afirmou em coletiva de imprensa a pesquisadora Gislaine Fongaro, do Laboratório de Virologia Aplicada da UFSC.
No dia em que o Brasil chegou perto de 1,5 milhão de contaminados e 61.884 mortos pela covid-19, o filósofo Vladimir Safatle escreve sobre a "engenharia da indiferença" no país. Para ele, "o principal esforço até agora não consistiu em mobilizar as riquezas do país para evitar as mortes, mas, sim, em banalizá-las", escreve. "O país no qual podemos habitar ainda não existe. Seria mais fácil se assumíssemos, de uma vez por todas, que precisaremos criá-lo. E o primeiro passo para isso é se recusar a aceitar mais um genocídio."
Já a reportagem de Javier Salas propõe uma discussão delicada: o limite do aceitável seria mais baixo para pessoas com menos recursos? Uma série de experimentos em Harvard tentaram responder a essa pergunta, com algumas conclusões reveladoras: temos um padrão duplo preocupante. Pessoas de baixa renda são julgadas de modo mais negativo por consumirem os mesmos itens do que outras com renda mais alta porque se considera que elas deveriam se contentar com menos, mesmo que isso prejudique sua saúde ou segurança. Um estudo bastante revelador neste contexto atual de pandemia, em que em todo mundo são discutidas propostas de renda mínima para os que têm menos, algo às vezes recebido com preconceito por parcelas da população.
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