Eat the rich, coma os ricos. Poucas pichações são tão eloquentes do momento que atravessa um país como a que apareceu recentemente na fachada de um hotel em Santiago. Uma mensagem direta, em inglês —para que ninguém, nem dentro nem fora, pudesse alegar a barreira idiomática— e com dois claros destinatários: as classes acomodadas de uma nação que arde em protestos há três semanas e os turistas e homens de negócios que visitam a capital chilena num de seus períodos mais conturbados em muitos anos. O Chile quer justiça social. E a quer já, depois de décadas de promessas descumpridas e de, nas palavras da economista do desenvolvimento Nora Lustig, “um modelo privatizador dos serviços públicos que deixou muita gente de fora”. A reportagem de Rocío Montes e Ignacio Fariza explica como o caso chileno é paradigmático de uma máxima que nunca convém esquecer na economia: que a renda per capita não é suficiente como termômetro do bem-estar real e da fragmentação socioeconômica de um território.
De Puerto Maldonado, no Peru, Stephania Corpi explica as consequências de uma outra crise: a venezuelana. A fronteira entre Peru e Brasil se tornou uma das mais transitadas pelos migrantes, inclusive aqueles que apoiavam o Governo chavista. Os grupos enfrentam obstáculos físicos e solidão no caminho: “Preferimos morrer tentando do que morrer de fome lá dentro”, contam.
A agitação que atinge o continente americano foi ignorada no encontro dos Brics, que acabou em Brasília nesta quinta, depois de dois dias, sem qualquer citação às crises da Venezuela, Bolívia e Chile —mas com referências o Iêmen, Síria e Coreia do Norte. A cúpula mostrou a falta de coesão de um grupo nascido sob sua força econômica na época, há dez anos, mas que definha no mesmo passo da desaceleração econômica e da disparidade entre os interesses de seus cinco membros, apontam Naiara Galarraga Gortázar e Afonso Benites.
Nesta quinta, estreou O Irlandês, o novo filme de Martin Scorsese, que une Robert De Niro e Al Pacino em uma nova história sobre a máfia. A obra sofreu incontáveis atrasos durante anos, causados pelo seu orçamento —enorme para um filme de Scorsese— necessário para rejuvenescer digitalmente os rostos dos protagonistas. O envelhecimento, aliás, é uma das reflexões contempladas na produção. Como as estrelas lidam com isso? De Niro: “É a vida”. Pacino: “Estamos tão mal assim?”, comentam em entrevista ao EL PAÍS.
O “milagre da economia” do Chile se choca com a realidade do país |
Custo da vida, salários, previdência e os sistemas privados de saúde e educação se sobrepõem à melhora da renda no imaginário coletivo do país |
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