miércoles, 20 de noviembre de 2019

Dia da Consciência Negra: Ser negro no Brasil, as marcas da escravidão evidenciadas em números | Brasil | EL PAÍS Brasil

Dia da Consciência Negra: Ser negro no Brasil, as marcas da escravidão evidenciadas em números | Brasil | EL PAÍS Brasil



Uma "proposta inconstitucional". A "destruição de direitos adquiridos". Algo desumano, que deixaria "expostos à miséria e à morte os inválidos, os enfermos, os velhos, os órfãos e crianças abandonadas da raça que se quer proteger". Foi assim que em 12 de maio de 1888, um dia antes da aprovação da Lei Áurea no país, senadores da bancada escravagista no Senado justificaram suas posições contrárias à legislação que extinguiria a escravidão. O repórter Gil Alessi recupera essa sessão do Parlamento, que mostra como o alguns deputados abolicionistas também cometeram erros ao traçar um panorama do que viria com o fim do regime escravocrata no Brasil. “A escravidão será em poucos anos apenas uma sombra no passado, sem perturbar com desastres e ruínas as alegrias do futuro”, afirmou Manoel Francisco Correia, do Paraná, em palavras que, vistas à luz da situação de discriminação, racismo e violência que o negro ainda sofre no Brasil do século XXI, não poderiam soar mais equivocadas.
Cento e trinta e um anos se passaram desde esta discussão, que culminou na abolição da escravidão, mas o Brasil ainda está longe de ser uma democracia em termos raciais. Nesta edição especial sobre o Dia da Consciência Negra, a repórter Heloísa Mendonça percorre os dados do presente, que deixam claro as marcas de três séculos de escravidão que persistem até os dias de hoje no país. Em 2017, 50,7% das crianças até cinco anos que morreram por causas evitáveis eram pardas e pretas, enquanto 39,9% eram brancas. Em 2018, a taxa de analfabetismo das pessoas pretas ou pardas foi de 9,1% no Brasil, quase três vezes maior que a de brancos (3,9%). Pretos ou pardos também somam atualmente 64,2% da população desocupada do Brasil. Em 2017, uma pessoa preta ou parda tinha 2,7 vezes mais chances de ser vítima de homicídio intencional do que uma pessoa branca.
"A frase da mãe que fala para o filho levar o documento é outra camada. Tudo o que a militância mais jovem aprendeu a chamar de genocídio da população negra, cruzar isso com estatísticas que corroboram com a nossa visão e mostram o racismo estrutural no Brasil, com ênfase na perseguição às pessoas pobres e pretas, está dentro dessa frase que as nossas mães diziam pra gente sem fazer discurso. Essa frase é um jeito sereno de mostrar a preocupação delas e, por dizer isso cada vez que colocamos o pé fora de casa, elas nos fizeram entender que a situação não é igual. Quando você tem 16 anos e pergunta para o seu amigo loiro de olho verde se ele também passa por isso, a resposta é não", afirma o rapper Emicida em entrevista ao EL PAÍS sobre seu novo disco, AmarElo. O cantor leva o novo trabalho a um show de estreia no Theatro Municipal de São Paulo em 27 de novembro. "Não tive oportunidade de entrar naquele lugar a maior parte da minha vida, então, o que nós vamos fazer no dia 27 é dizer para as pessoas que têm origem parecida com a nossa que aquele lugar é nosso também."
Ao longo desta semana, o EL PAÍS Brasil publicará novos conteúdos sobre o tema, que estarão também nas próximas newsletters.
Ser negro no Brasil, as marcas de três séculos de escravidão

Ser negro no Brasil, as marcas de três séculos de escravidão
Maioria da população no país, pardos e pretos possuem a maior taxa de analfabetismo, menores salários e sofrem mais com a violência e o desemprego

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