Brasil ultrapassa 11.100 mortes por covid-19 sob o silêncio de seu presidente sobre as vítimas
Enquanto seu ministro da Saúde lamenta vidas perdidas, Bolsonaro ignora luto decretado por Congresso e STF, ironiza ‘lockdown’ e debocha de risco de impeachment: “Vou sair dia 1º de janeiro de [20]27”
Um Brasil em luto lembrou suas mães neste domingo, quando o país chegou à marca de 11.123 mortes causadas pela covid-19. Foram 730 confirmações no sábado e 496 no domingo, além de um total de 162.699 pessoas infectadas (destas, 64.957 recuperados e 86.619 em acompanhamento). No sábado, quando o país se tornava o sexto em número de óbitos provocados pelo vírus no mundo, o presidente Jair Bolsonaro foi passear de jet ski e, em um encontro gravado por apoiadores no lago Paranoá, em Brasília, voltou a minimizar a pandemia. "É uma neurose", disse. No dia seguinte, enquanto seu ministro da Saúde, Nelson Teich, usava as redes sociais para lamentar as mães que perderam seus filhos e os filhos que perderam suas mães para a doença, Bolsonaro silenciou. Mas não perdeu a oportunidade de novamente faz deboche quando questionado sobre os que cobram sua saída do cargo. "Vou sair dia primeiro de janeiro de [20]27”, disse, diante das câmeras, após furar a quarentena e participar de uma festa familiar na casa do filho Eduardo. O mandato do presidente vai até 2022.
Enquanto o presidente do Brasil insiste em seguir na contramão mundial do enfrentamento contra o vírus, que já infectou mais de quatro milhões de pessoas no planeta, o mundo segue dividido entre os países que endurecem as medidas de isolamento social —como o Reino Unido, que prorrogou até junho o confinamento— e os que já veem brecha para dar um passo em direção ao novo "normal", como a Espanha, cuja reabertura gradual excluiu Madri, causando desconforto político no país. Afinal, como será o mundo que emergirá do tsumani provocado pelo vírus? "Saímos da Grande Recessão com os populismos desatados; da Grande Reclusão é bem possível que saiamos com os populismos ainda mais fortes. As pessoas estão assustadas, desorientadas. Se houver erros políticos esse medo se transformará em angústia, em irritação”, aponta Charles Kupchan, do Council on Foreign Relations, o think tank mais influente do mundo.
O filósofo alemão Peter Sloterdijk, porém, faz outra leitura. Sai a frivolidade e o consumismo exacerbado, entra o senso comunitário, sob o conceito de coimunidade, do compromisso individual voltado à proteção mútua, que marcará a nova maneira de estar no mundo, segundo o autor de Crítica da Razão Cínica e da trilogia de Esferas. "Depois de uma disrupção tão grande, o retorno aos padrões de frivolidade não será fácil", avalia. Para Sloterdijk, forças populistas perdem força pós pandemia. “Serão os perdedores da crise. O público terá entendido que você não pode esperar nenhuma ajuda deles.”
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