Bolsonaro invoca “intervenção militar” contra o STF e flerta com golpe
Enquanto ataca Corte, presidente se aproxima do Congresso e oferece vaga no Supremo ao PGR, que o investiga. “É a interpretação de quem conspira contra a democracia", diz Oscar Vilhena
Em conflito aberto com o Supremo Tribunal Federal e diante de inquéritos que acossam a ele e parte de seus mais fiéis militantes, o presidente Jair Bolsonaro cruzou uma linha perigosa nesta quinta-feira. Invocou uma “intervenção militar pontual”, ou seja, um golpe contra outros poderes constituídos. Para tal, o presidente publicou em suas redes sociais a opinião do advogado Ives Gandra Martins defendendo que as Forças Armadas atuem como "poder moderador" com base no artigo 142 da Constituição. Antes, seu filho, deputado Eduardo Bolsonaro, havia defendido o mesmo: que os militares "zerassem" o jogo. O EL PAÍS consultou dez juristas, três deles que preferiram não ter seus nomes revelados pelos cargos que ocupam, e todos afirmaram, de forma unânime, que não há a figura de “intervenção militar” que não seja um golpe. Parte deles opina, inclusive, que o presidente, que já havia participado de manifestações golpistas, incorreu no crime de incitar um golpe de Estado. “É a interpretação de quem conspira contra a democracia", diz Oscar Vilhena, professor de direito da FGV.
O flerte autoritário do Governo compõe o drama de um país que vê a alta diária de casos e mortes na pandemia do coronavírus enquanto algumas cidades e Estados planejam afrouxar medidas de isolamento social. Reportagem de Marina Rossi conta a ainda pouco detalhada estratégia gradual da Prefeitura de São Paulo de retomar a atividade econômica na cidade e ouve pesquisadores que advertem que a reabertura é precipitada e que pode haver retorno de casos. Também contamos como a Coreia do Sul, um dos mais bem-sucedidos na hora de conter a pandemia, retomou uma série de medidas de distanciamento social na área metropolitana de Seul, ante um surto iniciado num centro de logística nos arredores da capital. Já nos Estados Unidos, a liderança errática de Trump, os alertas ignorados durante meses e a falta de recursos levaram ao limite uma apagada potência: o país acaba de alcançar 100.000 mortos por coronavírus, longe dos 60.000 que a Administração calculou em seus prognósticos mais otimistas, ou dos 58.000 caídos na Guerra do Vietnã.
Diante do vendaval causado no meio corporativo pela chegada do movimento Sleeping Giants ao Brasil, a estratégia de expor marcas e empresas nas redes sociais ligadas a mensagens de desinformação ou discurso de ódio começa a ganhar corpo em outras frentes. Nesta terça-feira, organizações ambientais lançaram o movimento “Nome aos bois”, a fim de identificar companhias que, indiretamente, endossam um manifesto contra a “burocracia que devasta o meio ambiente”. O documento, publicado em anúncio de jornal, foi feito em apoio às ações do Ministério do Meio Ambiente, após a divulgação do vídeo de uma reunião em que o ministro Ricardo Salles diz que o Governo deve aproveitar a “oportunidade” da pandemia para avançar a pauta de desregulamentação do setor.
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