O Brasil encerra a semana com a queda do secretário da Cultura do Governo Bolsonaro, Roberto Alvim, que divulgou um vídeo em que parafraseou trechos de discurso do ministro da Propaganda de Hitler, Joseph Goebbels. A reação à manifestação foi imediata: imprensa e os presidentes da Câmara e do Supremo Tribunal Federal e até a Embaixada da Alemanha no Brasil protestaram veementemente. A pressão acabou fazendo Bolsonaro retirá-lo do cargo. Alvim atribuiu o fato a uma “busca” feita por sua equipe no Google. Horas antes do vídeo com referência nazista, o presidente de extrema direita havia elogiado o então secretário ao vivo, pelo Facebook, por promover arte alinhada ao "conservadorismo". No fim do dia, Bolsonaro convidou a atriz Regina Duarte para assumir a pasta —ela ainda não respondeu. Todo o episódio joga ainda mais sombra em uma das áreas preferenciais de intervenção e censura da gestão de ultradireita, a cultura.
Nesta edição, reportagem aborda outro tentáculo ativo do ultraconservadorismo: o lobby antiaborto, que adota uma nova estratégia. O grupo pretende aumentar a pressão sobre o Congresso por meio da criação de frentes "pró-vida" nas Assembleias Legislativas e da modificação de Constituições estaduais. O objetivo é acabar com qualquer possibilidade de se realizar um aborto legal, até nos casos previstos no Código Penal. A reportagem de Luiza Villaméa e Mônica Tarantino, feita com o apoio do Instituto Patrícia Galvão – Mídia e Direitos, conta que já são nove frentes instaladas. Deborah Duprat, procuradora federal dos Direitos do Cidadão (PFDC), enxerga semelhanças entre a disseminação das frentes e o movimento político Escola sem Partido. “Se analisarmos, veremos muita coisa parecida. Algo que surge muito silenciosamente e vai ganhando corpo até isso se traduzir numa avalanche de leis estaduais e municipais.”
Para ler com calma, nossa edição especial de fim de semana propõe uma visita à trajetória de Federico Fellini um século depois de seu nascimento. Reportagem de Daniel Verdú, correspondente na Itália, reconstrói a vida transbordante do cineasta através das recordações de seus colaboradores. Verdú conta como até o dicionário italiano reconhece a palavra felliniano. Significa quase tudo o que tem a ver com o Mago de Rimini e seu cinema, mas é também o adjetivo que descreve um universo estético, social e político que impregna uma nação inteira há seis décadas. Guia com as datas de estreia dos filmes do Oscar 2020 nos cinemas brasileiros completa nosso cardápio.
Lobby antiaborto se espalha pelos parlamentos estaduais brasileiros |
Profusão de frentes parlamentares visa acelerar trâmite de projetos no Congresso que impedem a interrupção da gravidez em qualquer circunstância |
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