Reunião expõe ao menos dois crimes de Bolsonaro, apontam juristas

Vídeo e entrevista desmontam versão de presidente sobre PF e elevam pressão sobre Aras por denúncia. A uma radio, mandatário diz ter sido avisado de operações policiais contra a família

Não foi uma surpresa, mas ainda assim foi chocante. O Brasil foi apresentado nesta sexta-feira à quase íntegra de uma reunião ministerial do Governo Bolsonaro em 22 de abril, por decisão do ministro do STF Celso de Mello, relator do inquérito que apura se o presidente interferiu na Polícia Federal. De acordo com juristas ouvidos pelo EL PAÍS, as imagens corroboram a acusação do ex-ministro Sergio Moro de que o presidente o pressionava no Ministério da Justiça em busca de proteção para sua família e "amigos meus", como ele diz no vídeo. Para os especialistas, as imagens expõem a prática de ao menos dois crimes pelo presidente e elevam a pressão para que o procurador-geral, Augusto Aras, ofereça uma denúncia. A reunião, porém, foi muito além do caso Moro versus Bolsonaro e também mostrou como nunca o modus operandi do Governo ultradireitista. Em meio à pandemia do novo coronavírus, que já matou ao menos 21.048 pessoas no Brasil e já faz do país o segundo com o maior número de infectados no mundo, a gravação evidencia o descaso do presidente com o avanço da covid-19. Explicita ainda os estratagemas do ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) para tentar aproveitar a emergência sanitária para avançar na desregulamentação ambiental.

Nesta sexta-feira, também foi publicado na revista The Lancet, a maior revista médica do mundo, um estudo que aponta para o aumento do risco de morte com o uso da hidroxicloroquina e cloroquina no tratamento de pacientes com a covid-19 ―medicamentos agora, devido a obsessão do presidente, recomendados pelo Ministério da Saúde brasileiro mesmo para tratar de casos mais leves da doença. Em sua coluna, Juan Arias fala sobre como o Brasil tem encarnado o pensamento medieval na luta contra a covid-19. "O Brasil tenta combater a pandemia de coronavírus com uma receita que mistura invocações a Jesus, cloroquina, sementes de feijão, orações e jejuns coletivos. Tudo parece bom, exceto seguir os passos da ciência e da medicina", escreve. A boa notícia da semana é que foram promissores os primeiros testes da vacina que a China tenta desenvolver contra a doença.

Para ouvir com calma e relaxar, mais uma playlist do cineasta espanhol Fernando Trueba, que oferece uma seleção de faixas de jazz do multifacetado Paulo Moura, o saxofonista e clarinetista da música brasileira por excelência. De família de músicos, estudou orquestração com o grande Moacir Santos, sendo depois um destacado arranjador e orquestrador. Seu trabalho cobre todo o espectro da música, da gafieira ao jazz, passando pela música clássica. Confira também as playlists de Trueba, com gigantes norte-americanos na Bossa Nova, as releituras de brasileiros para os Beatles e Gilberto Gil, que dispensa apresentações.