Bolsonaro cogita enviar filho Eduardo para a embaixada dos Estados Unidos
Presidente afirma a jornalistas que possibilidade está em seu "radar". Deputado federal disse que ainda precisa conversar com o pai, mas que desempenhará "missão da melhor maneira"
São Paulo
Bolsonaro, no dia 10 de julho em Brasília. ADRIANO MACHADO REUTERS
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) cogita indicar o filho Eduardo, atualmente deputado federal por São Paulo, como embaixador do Brasil nos Estados Unidos. “Está no meu radar, sim, é uma possibilidade”, afirmou nesta quinta-feira a jornalistas em Brasília. Eduardo Bolsonaro é advogado de formação e escrivão da Polícia Federal de carreira. Apesar de ocupar a presidência da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, não possui considerável experiência em relações internacionais, muito menos para ocupar um posto-chave da diplomacia brasileira tradicionalmente reservado para membros da elite do Itamaraty. Contudo, ele foi um dos fiadores da escolha do chanceler Ernesto Araújo e um dos articulares da viagem presidencial aos EUA em março deste ano, considerada bem sucedida pelo Governo Federal. "Ele é amigo dos filhos do Donald Trump, fala inglês e espanhol, tem uma vivência muito grande do mundo. Poderia ser uma pessoa adequada e daria conta do recado perfeitamente", destacou o mandatário.
Nos corredores da Câmara, Eduardo Bolsonaro primeiro comentou: "Se o presidente falou, tá falado". Depois emendou: "A missão que o presidente der para mim, vou tentar desempenhar da melhor maneira". Momentos depois, em entrevista coletiva, amenizou as declarações de seu pai e afirmou que ainda precisa conversar com ele e com Araújo. Diz não querer tomar uma decisão que desagrade o chanceler. Ele reafirmou suas credenciais para o posto — "falo inglês e espanhol e sou o deputado mais votado da história do país" — e acredita que ser tão próximo do chefe de Estado será bem visto pelo Governo norte-americano. Admirado pelo clã Bolsonaro, Donald Trump também mantém familiares por perto e chegou a fazer algo parecido: sua filha Ivanka foi nomeada assessora na Casa Branca e foi vista recentemente tentando participar de uma roda de conversa com líderes mundiais durante a cúpula do G-20. Mas, até onde se sabe, seu nome não foi cogitado para liderar uma embaixada do país.
Quando o presidente se reuniu com Trump a portas fechadas no Salão Oval da Casa Branca, Eduardo foi o único membro da delegação brasileira presente. Araújo teria manifestado publicamente seu desconforto entre os demais membros da comitiva, segundo informações da época. O deputado federal não raro é considerado mais influente que o próprio ministro, indicado pelo autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho. O ideólogo e guru da extrema direita brasileira vive no estado de Virgínia e é próximo de Eduardo.
Algumas questões imediatas surgem após uma decisão que aparentemente pegou de surpresa o próprio Itamaraty, que não foi consultado. Em primeiro lugar, o Senado precisa confirmar seu nome após sabatina. Além disso, a idade mínima para ser embaixador é 35 anos, cumpridos por Eduardo nesta quarta-feira, coincidentemente ou não. Por ser filho do presidente, a indicação poderia ser considerada nepotismo e questionada no Supremo Tribunal Federal. O deputado disse não acreditar nessa hipótese, mas admite que deverá renunciar ao mandato de deputado federal.
A embaixada norte-americana é considerada estratégica pelo Governo, que vem buscando estreitar os laços com a principal potência do planeta e com o Governo Trump. O diplomata bolsonarista Nestor Forster era considerado o favorito para substituir o diplomata Sérgio Amaral, removido do cargo em abril por Araújo. Desde o início do ano vários nomes foram ventilados para o posto. Mas Jair Bolsonaro garante ter tomado a decisão nesta quinta. "Da minha parte, eu me decidi agora, mas não é fácil uma decisão como esta estando no lugar dele e renunciando ao mandato", afirmou. E passou a bola para aquele que no núcleo familiar é considerado o zero três: "Apesar de ser meu filho, ele tem de decidir".
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