Governo Bolsonaro impõe apagão de dados sobre a covid-19 no Brasil em meio à disparada das mortes
Portal do Ministério da Saúde exclui número total de infectados pelo novo coronavírus e acumulado de óbitos no país desde o início da pandemia. Secretários de Saúde, Judiciário e entidades da sociedade civil criticam omissão de dados: “Tragédia”, classifica ex-ministro Mandetta
Com a pandemia de coronavírus batendo seguidos recordes no Brasil, o Governo de Jair Bolsonaro decidiu agir. Mas não contra a doença, como era de se esperar. E, sim, contra os números. Se no final da semana passada o Ministério da Saúde mudou a metodologia de apresentação dos dados, sem colocar o consolidado de mortes e casos no boletim oficial como fazia antes, e o próprio presidente já havia avisado que a metodologia de contagem poderia mudar, a ofensiva em direção a um apagão de informações sobre a doença seguiu no final de semana. O portal oficial passou por uma reformulação e também excluiu número total de infectados e de óbitos, como havia ocorrido com o boletim, dificultando que se saiba o número de vítimas no país desde o início da pandemia.
Na noite de domingo, para completar, a pasta divulgou dois dados diferentes. Em um primeiro momento, informou o registro de novas 1.382 mortes nas últimas 24 horas. Horas depois, o painel oficial trazia um número muito mais baixo: 525. Até o momento, o mistério segue sem explicação. "Incapaz de produzir um milagre para proteger a vida, o Governo brasileiro buscou inventar o ‘wizard’, burocrata capaz de fazer as vítimas 'desaparecerem' das estatísticas oficiais", analisa o cientista político Andrei Roman.
Este final de semana também foi marcado por protestos. No Brasil, em plena pandemia, manifestantes saíram às ruas para cobrar o fim da violência racista, levantar bandeiras antifascistas e defender a democracia brasileira, num contraponto aos protestos que ocorrem há semanas ―com a adesão e apoio do presidente Jair Bolsonaro― pelo fechamento do Supremo Tribunal Federal e do Congresso Nacional. “Tenho mais medo do racismo do que da pandemia. Obviamente o coronavírus mata, mas o racismo é muito cruel”, explicou Julia, uma jovem negra da zona sul de São Paulo, uma das dez cidades brasileiras onde houve atos. “O que adianta ficar em casa se a maior parte da população negra não pode ficar em quarentena?”, justificou a designer Tânia Aquino, 26 anos, que também estava no Largo da Batata.
Os atos contra o racismo foram registrados neste domingo em todo o mundo. O estopim da revolta foi a morte de George Floyd, que por si só era um retrato bruto de como a população negra é a que mais tem sofrido também com o coronavírus. Antes de ser morto por um policial branco durante uma abordagem agressiva, ele havia sido contagiado com o vírus e perdido o emprego como consequência da pandemia. A história deste homem de 46 anos, cujo nome e agonia deram a volta ao mundo, se perde na selva de estatísticas que contam o que significa ser negro nos Estados Unidos hoje. Meio século depois do ocaso das leis de segregação, mais de 150 anos após a abolição da escravidão, e alcançados marcos tão simbólicos quanto a eleição de um presidente afro-americano, brancos e negros não vivem a mesma vida e, em muitos casos, literalmente, não habitam o mesmo pedaço de terra.
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Secretários de Saúde, Judiciário e entidades da sociedade civil criticam omissão de dados: “Tragédia”, classifica ex-ministro Luiz Henrique Mandetta |
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