lunes, 23 de septiembre de 2019

As lágrimas por Ágatha no Complexo do Alemão, onde crianças se habituaram a fugir de tiros | Brasil | EL PAÍS Brasil

As lágrimas por Ágatha no Complexo do Alemão, onde crianças se habituaram a fugir de tiros | Brasil | EL PAÍS Brasil



Ágatha Félix foi a 16ª criança baleada no Rio de Janeiro em 2019 —quase duas por mês—, e a quinta a não resistir aos ferimentos e morrer. Aos oito anos, foi atingida por um tiro nas costas quando estava dentro de uma Kombi, ao lado de sua mãe, no Complexo do Alemão, região onde as crianças se habituaram a fugir de tiros. A morte de Ágatha fez ecoar, novamente, um grito de luta e desespero no subúrbio carioca: "Parem de nos matar", estampava uma grande faixa carregada por vizinhos da vítima, durante o cortejo do corpo da pequena, neste domingo. Era a enésima vez que pediam para que o direito à vida, o mais elementar dos que a Constituição garante, fosse respeitado nas periferias. O governador Wilson Witzel foi chamado de "assassino" em diversos momentos do protesto que antecedeu o enterro do corpo da estudante, assim como a PM que comanda. "Eu tenho filha, e ela fica desesperada quando vai para a escola. Quando dá tiro, ela quer descer para debaixo da pia", discursou um mototaxista que acompanhava o velório. "Dizem que aqui tem todos os direitos. E eu gostaria de saber se isso funciona para a criança favelada", questionou a ativista Camila Santos, com o Estatuto da Criança e do Adolescente em mãos. A reportagem é de Felipe Betim.
Enquanto a periferia gritava pela morte de Ágatha, Brasília e o Palácio Guanabara silenciavam. Witzel não se pronunciou sobre a tragédia, embora o Governo do Estado tenha emitido uma nota lamentando o caso. Tampouco falou o presidente Jair Bolsonaro, que nesta segunda-feira viaja para Nova York, onde participa da Assembleia Geral das Nações Unidas. "Talvez o presidente não saiba, mas ele desembarca em uma entidade que usou a imagem da Mulher Maravilha para promover o direito das mulheres e meninas pelo mundo. A fantasia, porém, não salvou Ágatha", escreve o jornalista Jamil Chade, lembrando a imagem que circulou e comoveu o mundo após o assassinato da menina: Ágatha, sorridente, posando com a fantasia da heroína. O discurso de Bolsonaro está previsto para esta terça-feira, mas sua política de segurança, e sua gestão na área ambiental e indígena ameaçam ofuscar qualquer tentativa presidencial de transformar o palanque da ONU em uma operação de publicidade global.
E ainda nesta edição, o correspondente Marc Bassets escreve sobre Capital e Ideologia, o livro de 1.200 páginas escrito por Thomas Piketty, recém-publicado na França. “Dar um sentido às desigualdades, e justificar a posição dos vencedores, é uma questão de vital importância. A desigualdade é acima de tudo ideológica”, escreve o economista francês e grande teórico da desigualdade em sua mais nova obra.
“Parem de nos matar”, o apelo desesperado no enterro de Ágatha

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Velório de menina de oito anos, morta com um tiro de fuzil nas costas durante operação policial, reúne centenas de moradores, ativistas e artistas no Rio. "Nossa luta só está começando", discursa o avô

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